"Eu sou responsável....
Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali. E por isto: eu sou responsável."

Dr. Lais Marques da Silva

Dr. Lais Marques da Silva


 

 

Nascido em 29 de junho de 1933, na cidade do Rio de Janeiro, formou-se em Medicina na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em 1959. Tra-balhou no Instituto Nacional de Câncer durante seis anos e no Pronto Socorro do Hospital Getúlio Vargas durante dois anos. Entrou para o Corpo de Saúde da Marinha do Brasil, tendo passado para a reserva no posto de capitão de mar e guerra, no ano de 1989. Entre outras funções, foi chefe dos departamentos de saúde do Navio Aeródromo Minas Gerais e da Base de São Pedro, vice diretor dos hospitais Nossa Senhora da Glória e Marcílio Dias, tendo criado uma unida-de de recuperação para dependentes químicos na Unidade Integrada de Saúde Mental. Foi condecorado com as medalhas do Mérito Tamandaré e do Mérito Naval. Fez curso Superior e de Política e Estratégia Marítima na Escola de Guer-ra. Fez curso de Medicina de Aviação na School of Aviation Medicine, Florida, USA, na Naval Air Station, US Navy. Fez curso de pós  graduação em Anestesio-logia e em Administração Hospitalar. Foi conselheiro do Conselho Estadual de Entorpecentes. Foi, por nove anos, diretor do Hospital da Missão de São Pedro e membro do Conselho de Cultura do Município de Cabo Frio. Iniciou as ativi-dades em Alcoólicos Anônimos em 1973 tendo participado da fundação de gru-pos de A.A. na Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro. Desempenhou atividade contínua junto à Irmandade desde o ano de 1973, tendo participado das atividades comemorativas dos 40 Anos do A.A. no Brasil. Foi eleito Custó-dio não alcoólico em 1988 e exerceu as funções de Vice Presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil por três anos e de Presidente por seis anos, até 1997, ano do Cinqüentenário do A.A., no Brasil. Participou, como delegado do A.A. do Brasil, na XI Reunião Mundial de Alcoólicos Anôni-mos, realizada em Nova York, em 1992.

 

Dentre os inúmeros trabalhos realizados para Alcoólicos Anônimos, destaca-mos:

 

DA DESONESTIDADE ÀS VIRTUDES

 

Desonestidade, manipulação, negação, racionalização, projeção. Essas são, u-sualmente, realidades por demais conhecidas dos alcoólicos, quando na ativa.

 

O alcoólico na ativa costuma negar, racionalizar e projetar. Negação é simples-mente o ato de negar. Por meio da racionalização procura explicar o inexplicá-vel ao elaborar raciocínios sobre falsas razões com o intuito de justificar. Já a projeção é um mecanismo de defesa que consiste em projetar impulsos, con-flitos internos. Em considerá-los como provenientes de outrem ou, de forma mais geral, do mundo exterior.

 

Pensar e agir dessa forma conduz a um comportamento dominado pela deso-nestidade e pela constante manipulação de fatos e de pessoas. No entanto, estando sóbrio, o alcoólico quer saber o que é bom. Fazer o que é certo, servir ao que é justo, ou seja, fazer a coisa certa. Embora sejam metas que exigem esforço, persistência e determinação, é comum encontrar companheiros que lutam por “fazer a coisa certa”. Estando sóbrio, ironicamente, ele precisa vencer a sensação que às vezes ocorre de que a vida no alcoolismo é mais divertida que na virtude. Mas as atitudes viciosas fazem as coisas funcionarem mal en-quanto que a virtude sustenta o bem estar e é o fundamento de uma vida feliz e plenamente realizada.

 

Então, vamos tratar do oposto, ou seja, da: verdade, fidelidade, integridade e fé. Todos intimamente interligados.

 

O que vamos tratar é abstrato e árido, mas vai ao mistério profundo da nossa vida interior mais secreta e à origem dos nossos atos externos. Em algum mo-mento das nossas vidas, temos que voltar a nossa atenção para dentro de nós mesmos porque descobrimos que a felicidade não depende dos bens materiais que possuímos, dos relacionamentos que temos ou das nossas realizações.

 

VERDADE

 

Os mitos são um modo muito rico de abordar aspectos complexos e multidi-mensionais da natureza humana. O mito de Orestes mostra claramente a ne-cessidade e a importância da verdade, da verdade completa e não da meia verdade, que ainda é uma mentira, para se poder desfrutar de boa saúde mental.

 

O Mito de Orestes

 

Orestes era filho de Agamenon e de Clitemnestra. Com a Guerra de Tróia, hou-ve o longo afastamento do lar por parte de Agamenon. Clitemnestra havia so-frido um trauma intenso com o sacrifício de Ifigênia, quando da partida da es-quadra para Tróia. Estando Agamenon ausente, Clitemnestra se junta ao a-mante, Egisto, e os amantes assassinam Agamenon quando do seu regresso à pátria. Orestes fica, então, com um terrível e insolúvel dilema: a maior obriga-ção de um jovem grego era vingar o pai assassinado e a pior coisa que um jo-vem grego poderia fazer era assassinar a sua mãe. Orestes matou a mãe e o amante e foi penalizado pelos deuses do Olimpo com as Fúrias, que eram 3 Hárpias, que continuamente o rodeavam e tagarelavam no seu ouvido, causan-do-lhe alucinações e levando-o à loucura. Orestes corre mundo mas, sendo sempre perseguido, pediu um novo julgamento aos deuses para que a sua pe-na fosse aliviada. O deus Apolo fez a defesa de Orestes e disse no julgamento que todo o fiasco não era senão a culpa dos próprios deuses que não deram a Orestes nenhuma melhor escolha e que, assim, ele não poderia ser considera-do culpado.

 

Os deuses concordaram, mas Orestes se levantou e, opondo-se a Apolo, disse que tinha sido ele mesmo quem havia matado a mãe e não os deuses e por isso era culpado. Nunca, antes, ninguém tinha sido tão verdadeiro a ponto de, tendo sido passada a culpa aos deuses, afirmar que a culpa era realmente sua.

 

Em razão deste fato, os deuses resolveram suspender a pena de Orestes e as Fúrias foram substituídas pelas Eumênides, cujo nome significa "portadoras da Graça". Não eram mais vozes tagarelantes, irritantes e negativas, mas sim vo-zes de sabedoria.

 

Este mito mostra a transformação da doença mental em extraordinária saúde e a verdade é o preço de tão maravilhosa transformação.

 

O grupo de A.A. é o local de encontro com a verdade.

 

A verdade tem vitalidade, tem vida própria, do mesmo modo que a unidade tem poder.

 

A freqüência aos grupos é indispensável. Notamos que muitas pessoas esque-cem os princípios, que não os aprendem bem ou os aplicam de modo deficien-temente de modo que não são transformados em hábitos regulares e formas de pensamento habituais. Ao longo do tempo, perdem a motivação e a inspira-ção e param de tentar. A motivação é como o fogo; as chamas se apagarão se o fogo não for alimentado.

 

A verdade de quem escuta ajuda a quem faz o depoimento a encontrar a sua verdade, fundamento da recuperação.

 

A qualidade de ser alcoólico. Essa é a característica que permite que quem es-cuta um depoimento seja capaz de compreender, de aceitar o que é relatado, de não julgar.

 

Coragem por parte do companheiro e compreensão por parte dos membros do grupo são essências para uma perfeita comunicação.

 

Um depoimento enriquecedor só é possível num ambiente sentido como sendo seguro, isto é, em que haja compreensão, não censura, não julgamento, ne-nhum comentário posterior. Mas em que haja empatia e a experiência prévia dos seus membros não os leve a se escandalizar.

 

Não importa como chegamos ao Programa de Recuperação, de crescimento es-piritual. A verdade é que ele sempre esteve aqui, esperando por nós.

 

FIDELIDADE

 

Analisemos o oposto, isto é, a infidelidade que é a incapacidade de sermos fi-éis a nós mesmos, ao que pensamos, ao que amamos, ao que dissemos, ao que prometemos. A infidelidade é como uma rachadura num dique, termina em avalanche.

 

É um inimigo insidioso do ser humano no plano psíquico e ainda mais destrui-dor nos planos intelectual e espiritual, onde o equilíbrio é indispensável à felici-dade.

 

Ser infiel implica na autodestruição invisível da nossa unidade pessoal.

 

Quem não é fiel coloca-se abaixo da sua própria humanidade e uma das mai-ores alegrias que se pode ter está em ajudar as pessoas entenderem e desen-volverem a sua própria humanidade.

 

A esse respeito, a história do profeta Jonas é muito ilustrativa. A palavra Jonas vem de iona, que quer dizer a pomba de asas cortadas. Jonas foi chamado pa-ra Nínive, onde muita coisa ruim estava acontecendo e a cidade caminhava pa-ra a destruição. Mas não acreditou nele mesmo, não foi fiel ao seu compromis-so e resolveu ir a passeio para um outro lugar, atendendo ao convite sedutor da fraqueza. Isso fez com que ficasse doente pois não estava em paz, não es-tava bem consigo mesmo. O fato de não estar em paz adoece as pessoas. A doença é um fax que recebemos e é preciso entender o que está acontecendo quando se fica doente. O problema surge quando nos desviamos do nosso ca-minho, quando nos desviamos da nossa fé. Mas veio a tempestade, que ocorre sempre que não se está bem consigo mesmo, com a própria consciência, com quem não tem integridade. Foi jogado ao mar e, já na barriga da baleia, re-conheceu que havia fugido da palavra dada, do compromisso e decidiu reassu-mi-lo novamente. Depois, foi jogado na praia e podemos entender este fato como o início de uma nova vida.

 

Temos que vencer o nosso Jonas interior, ser fiel ao que pensamos, acreditar no que somos e agir com integridade.

 

Fidelidade à palavra é uma prova de caráter. A prova oral sendo mais impor-tante do que a escrita.

 

Fidelidade é coerência, é permanência. Ser fiel é ir do não ser para o ser. É permanecer no ser. É essencial para a coesão da personalidade.

 

A fidelidade é a virtude socrática por excelência, "conhece-te a ti mesmo". O passado e o futuro são plásticos e podem ser modelados pela memória en-quanto que o presente é obtuso e obstinado, o presente simplesmente é.

 

A fidelidade é o caminho natural para a fé, suprema virtualidade transcenden-tal, para o encontro da verdade.

 

A fidelidade não é a nota típica ou dominante na onda do relativismo pessoal, intelectual, moral ou político que está corrompendo a nossa civilização.

 

INTEGRIDADE

 

Ser íntegro é ser inteiro. Ou seja, é não estar dividido internamente. A divisão gera tensão e instabilidade emocional. Sem integridade não há paz interior. E mais, a integridade é o fundamento da autenticidade.

 

Significa pensar, dizer e fazer uma só coisa. Significa coerência nos três planos. Coerência entre pensamentos, atos e palavras.

 

A integridade é o estágio final do desenvolvimento psicossocial do indivíduo e resulta de uma autodisciplina, da verdade interior e da decisão inabalável de ser honesto nas nossas respostas a todas as situações de vida.

 

O turbilhão interior se desfaz e estamos em paz interior quando optamos por viver vidas plenas de verdade.

 

É na paz que encontramos todas a verdades. Todas as escolhas e decisões são muito mais fáceis quando nos comprometemos em viver com total honestida-de. O fato de desenvolvermos valores permanentes é fundamental para nos ancorar, para nos dar estabilidade emocional e psíquica.

 

Cuide da sua integridade, ela é parte permanente de você. É um componente importante da autoestima e da autoimagem. A integridade dos pais é o fun-damento do respeito dos filhos. A integridade no casamento assegura o mais profundo sentido de confiança e de comprometimento, o solo perfeito para o crescimento do amor. A integridade no relacionamento entre amigos assegura uma condição que é essencial para a vida. A integridade no trabalho assegura o respeito permanente. A despeito de grande tentação, tente não se desfazer da sua integridade. A perda da integridade leva à vergonha, ao desgaste do espírito, mais do que à culpa.

 

FÉ – Definição no dicionário Aurélio

 

1)      Crença religiosa. De tanto sofrer, perdeu até a fé.

 

2)      Conjunto de dogmas e doutrina que constituem um culto. Fé muçulmana, fé católica.

 

3)      A primeira virtude teologal. Adesão e anuência pessoal a Deus, seus de-sígnios e manifestações.

 

4)      Firmeza na execução de uma promessa ou de um compromisso.

 

5)      Crença, confiança.

 

6)      Assunção de algum fato.

 

7)      Testemunho autêntico que determinados funcionários dão por escrito acerca de certos atos, e que tem força em juízo.

 

Fé conjugal – fidelidade conjugal.

 

Fé de ofício – a fé que se funda na honra do cargo ou da profissão de quem atesta ou abona.

 

Fé pública – presunção legal de autenticidade, verdade ou legitimidade de ato emanado de autoridade ou de funcionário devidamente autorizado, no exercício de suas funções.

 

DESENVOLVIMENTO

 

A fé é uma atitude inteira do ser que inclui tanto a vontade quanto o intelecto, dirigida a uma pessoa, a uma idéia ou, no caso de uma fé religiosa, a um ser divino.

 

Os teólogos modernos enfatizam o caráter total e existencial da fé e fazem u-ma distinção da concepção popular que a identifica como crença, em oposição aconhecimento. A fé inclui a crença, mas vai muito além.

 

A descrição mais clara do que é a fé, contida no Novo Testamento, está em Hebreus 11:1 em que a fé é proclamada como sendo o firme fundamento “das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem”. Aqui, a palavra fé denota o ato de confiar, de acreditar”. O Novo Testamento amplia o antigo conceito hebraico da fé como a qualidade de estabilidade e de confiança em que se assenta a relação entre dois seres viventes. No Novo Testamento a fé está no centro da relação do crente com Jesus Cristo, mas vai além no conceito de “acreditar em” ou de “acreditar que”.

 

Nem todos os cristãos acreditam que as exigências da fé são compatíveis com as da razão. São Paulo e o teólogo Tertuliano insistiram em que a fé parece tola aos olhos daqueles que não se abriram para a Graça de Deus. Nessa linha, o filósofo holandês Kierkgaard identificou um abismo que separa a razão da fé e afirma que aquele que se propõe ser uma pessoa que crê, deve dar o “salto da fé” por sobre o abismo para obter a salvação. Abraão, ao se dispor a sacri-ficar o seu filho, dá o “salto da fé”, que o leva de uma atitude ética para uma atitude religiosa. Obedece a ordem de Deus sem a entender e não procura as suas razões, aceitando-a cegamente porque tem fé. De um modo geral, os teólogos protestantes modernos enfatizam, como Kierkgaard, o aspecto subje-tivo e individualista da fé e se concentram no risco e no esforço moral dos que tentam levar uma vida na fé, mais do que na aceitação das crenças como uma expressão de fé.

 

Uma pequena história pode servir para entender o que é a fé:

 

Certa vez, chegou a uma cidade um equilibrista que se propunha a, caminhan-do sobre um cabo de aço, atravessar do alto de um edifício para outro, passan-do por cima de uma rua. No dia e hora marcados, uma multidão se reuniu no entorno de onde ia acontecer o espetáculo. Estendido o cabo, o equilibrista, u-sando um bastão, mostrou toda a sua habilidade ao atravessar por cima da multidão, indo de um edifício a outro. O povo aplaudiu e ele então se propôs a atravessar de volta mas só que sem o uso do bastão.

 

Era uma temeridade. Isso foi anunciado ao povo, que ficou perplexo pois era uma temeridade, uma morte quase certa. Mas o equilibrista atravessou perfei-tamente e sem nenhuma hesitação. Era um equilibrista exímio, extremamente bem dotado, um campeão que se mostrava com toda segurança para o imenso público. Então, um anunciante, usando um aparelho de som, disse que o equi-librista iria passar de um lado para o outro levando um carrinho de mão por so-bre o fio e perguntou ao povo se eles achavam que ele conseguiria. O povo se manifestou dizendo que sim, tendo em vista a fantástica habilidade demons-trada até então.

 

O anunciante perguntou se o povo tinha certeza e o povo gritou que sim. Aí ele perguntou novamente se o povo tinha realmente certeza e o povo gritou outra vez mais que sim. Então o anunciante pediu que, diante de tanta certeza, que um voluntário subisse para entrar no carrinho de mão que seria levado sobre o cabo de aço. Ter fé é entrar no carrinho.

 

A REALIDADE DOS NOSSOS DIAS

 

Vivemos num mundo que nos induz a duvidar. Recebemos diariamente uma grande quantidade de informações e acabamos por adotar uma atitude, sauda-velmente cética, que nos leva a indagar sobre onde querem nos levar e sobre o que ganham as pessoas que participam deste contexto. Mas não podemos du-vidar de tudo. As pessoas precisam acreditar em alguma coisa, mesmo que im-provável, e é por isso que os cultos e as causas sociais são abundantes nos dias de hoje. Deste modo, a fé também é abundante num mundo de corrupção e de cinismos espalhados por toda parte. Isso porque a fé é uma afirmação do valor humano e por esta razão é saudável, sendo felizes os que têm uma sóli-da fé e um bom julgamento.

 

A fé não é alguma coisa que se mostra dentro de um modelo de certo ou erra-do, como uma aposta. É um ato, uma intenção, um projeto. A fé é algo que faz saltar para o futuro, avançar, que lança para muito além do tempo em direção à eternidade, que não é o fim dos tempos ou um tempo imenso e infinito, mas sim o eterno.

 

É surpreendente que algumas pessoas consigam viver o dia de hoje sem se preocupar com o futuro ou lamentar o passado entendendo que esses são dois dias sobre os quais não podem fazer nada: o amanhã e o ontem. A maior par-te das pessoas gosta de fantasiar sobre esses dois dias. Aí pensam, que teria acontecido se Napoleão tivesse morrido de pneumonia quando criança? Ou via-jam numa imaginaria máquina do tempo em direção ao futuro. Mas isso não leva a nada e é preciso acordar para o fato de que passado e futuro são inven-ções nossas e a única realidade é o presente. É verdade que o passado contri-bui para o hoje e o hoje contribuirá para o futuro, mas não podemos fazer na-da acerca deles porque simplesmente estão fora do nosso alcance.

 

O que se observa, no entanto, é que os que têm uma fé vigorosa são os que são mais aptos a viver o momento presente. Viver o presente e cuidar da qua-lidade da vida que se leva são uma atitude de fé na própria vida. O presente é valioso e a fé nos ensina que ele é tudo o que temos.

 

A verdade é que somos nós que temos em mãos “os pinceis e as tintas” e podemos pintar o paraíso e ir para dentro dele. Podemos saudar o nosso dia com um sorriso de confiança e descobrir que ele contém uma grande promes-sa, da mesma dimensão da nossa capacidade. Podemos entender que é me-lhor viver com fé e sem a sensação de culpa, tendo o reino dentro de nós, rei-no significando ter um espírito em paz. Isso a partir da simples constatação de que quando estamos felizes, nos sentimos abençoados. No entanto, duvida-mos de que seja possível viver assim, com esperança e alegria e, sobretudo, sem arrependimento, sem medos, sem culpa na consciência. Mas, quando aprendemos a nos amar e a nos aceitar porque somos bons, aquele reino se torna nosso. A fé com que vivemos é pacífica, cheia de esperança, e tem origem na bondade do nosso espírito.

 

Kierkegaard

 

Tido como o fundador do moderno existencialismo, reagiu contra o idealismo absoluto de Hegel que dizia ter desenvolvido um entendimento racional total da humanidade e da história. Kierkegaard enfatizou a ambiguidade e o absur-do da situação humana. A resposta a isso consiste em viver inteiramente devo-tado à vida e este comprometimento só pode ser entendido por quem fez a o-pção. O indivíduo deve sempre estar preparado para desafiar as normas da sociedade, para ter a mais alta autoridade de uma maneira pessoalmente vá-lida da vida. Defendia o “salto da fé” para uma vida cristã que, embora incompreensível e cheia de risco, era o único compromisso que ele acreditava poder salvar o indivíduo do desespero.

 

Conclusão

 

O conhecimento da verdade, a prática da fidelidade e a construção de uma personalidade íntegra, são os fundamentos para o desenvolvimento de um nú-cleo de valores interiores e de crenças, estável e imutável, que é o alicerce da fé. Esse núcleo é de importância fundamental para nossa existência porque vi-vemos num mundo de mudanças explosivas que se constituem em solo fértil para o aparecimento da incerteza, da insegurança e da ansiedade.

 

Os seres humanos precisam acreditar e, por isso, são muitos os cultos religio-sos e as causas sociais. Ter fé é saudável e se constitui numa afirmação de valor, ao mesmo tempo em que oferece a sensação de continuidade.

 

Em A.A., muito da alegria e da felicidade que as faces expressam está em viver neste mundo com fé e sem a sensação de culpa.

 

Com a fé vem, naturalmente, a crença em si mesmo, indispensável para rea-lizar alguma coisa, para construir uma boa auto imagem e para viver uma sólida autoconfiança. Devemos estar mais atentos para o que somos do que para a quantidade do que fazemos.

 

O círculo se completa com o fato de que, tendo fé, melhor se pode identificar a verdade.

 

Fidelidade e fé são valores espirituais. Com eles aumenta o nosso nível de consciência e cresce a nossa humanidade.

 

A fé é um ato, uma intenção, um projeto, algo que projeta para o futuro, para longe, para frente, para além do tempo, para a eternidade.

 

Há dois dias em que nada podemos fazer. Eles são: ontem e amanhã. Passado e futuro são invenções e estão fora do nosso alcance. A única rea-lidade é o presente, ele é tudo que nós temos. Mas as pessoas não agem em conformidade com esse entendimento. E as pessoas que têm fé são as melhor dotadas para viver o momento presente.

 

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