A centelha que daria origem ao primeiro grupo de A.A. foi acesa em Akron, Ohio, em junho de 1935, durante uma conversa entre um corretor da Bolsa de Valores de New York e um médico de Akron. Seis meses antes, o corretor havia sido libertado de sua obsessão pela bebida por uma repentina experiência espiritual, após um encontro com um amigo alcoólico que havia estado em con-tato com os Grupos Oxford daquela época. Ele havia, também, recebido muita ajuda do falecido Dr. William D. Silkworth, médico de New York e especialista em alcoolismo, hoje considerado um santo médico pelos membros de A.A. e cuja história a respeito dos primeiros dias de nossa Sociedade estão em nossos livros. Com este médico, o corretor aprendeu sobre a gravidade do alcoolismo.
Embora não conseguisse aceitar todos os dogmas dos Grupos Oxford, ele se convenceu da necessidade de um inventário moral, da confissão dos defeitos de personalidade, da reparação junto aos que havia prejudicado, da ajuda ao próximo e da necessidade de acreditar e confiar em Deus.
Antes de sua viagem a Akron, o corretor havia trabalhado muito junto a vários alcoólicos, baseado na teoria de que somente um alcoólico poderia ajudar outro alcoólico, mas o único a quem conseguira manter sóbrio havia sido ele próprio. O corretor fora a Akron tratar de negócios que não.deram certo, o que o deixou com muito medo de começar a beber novamente. De repente, percebeu que, para se salvar, precisava levar sua mensagem a outro alcoólico. Esse outro alcoólico foi o médico de Akron.
O médico, várias vezes, havia tentado resolver seu problema alcoólico através de recursos espirituais, mas não obteve sucesso. Porém, quando o corretor lhe transmitiu a descrição do Dr. Silkworth a respeito do alcoolismo e seu caráter incurável, o medico começou a buscar o remédio espiritual para sua doença com uma determinação da qual nunca antes fora capaz. Parou de beber e permaneceu sóbrio até o momento de sua morte em 1950. Isto pareceu provar que um alcoólico podia exercer sobre outro alcoólico um efeito impossível de ser conseguido por qualquer não alcoólico. Demonstrou também que um trabalho persistente, de um alcoólico com outro, era vital para a recuperação permanente.
Por isto, os dois homens começaram, quase freneticamente, a tentar persuadir os alcoólicos que chegavam à enfermaria do Akron City Hospital. Seu primeiro caso, desesperador, recuperou-se imediatamente e tornou-se o terceiro membro de AA. Nunca mais bebeu. Este trabalho em Akron prosseguiu durante todo o verão de 1935. Houve muitos fracassos, mas, de vez em quando, havia um sucesso encorajador. Quando, no outono de 1935, o corretor voltou para New York, o primeiro grupo de A.A. havia sido formado, embora, na época, ninguém se desse conta disso.
Um segundo grupo logo se formou em New York e seu exemplo foi seguido em 1937, com o início de um terceiro, em Cleveland. Além destes, havia alcoólicos solitários que tomaram conhecimento das idéias básicas em Akron ou New York e tentavam formar grupos em outras cidades. No final de 1937, o número de membros com um tempo razoável de sobriedade era suficiente para convencê-los de que uma nova luz havia penetrado no mundo sombrio do alcoólico.
Era então o momento, acreditaram os esforçados grupos, para levar ao mundo sua mensagem e sua inigualável experiência. Esta determinação deu frutos na primavera de 1939, com a publicação deste volume. Os membros somavam então cerca de 100 homens e mulheres. A nova sociedade, ainda sem nome, começou então a ser chamada Alcoólicos Anônimos, a partir do título de seu próprio livro. O período de vôo cego terminou e A.A. entrou numa nova fase de sua época pioneira.
Com o aparecimento do novo livro, muita coisa começou a acontecer. O Dr. Harry Emerson Fosdick, o famoso clérigo, aprovou-o em sua crítica. No outono de 1939, Fulton Oursler, na ocasião editor da Liberty, publicou em sua revista um artigo intitulado "Os Alcoólicos e Deus". Isto gerou um afluxo de 800 frenéticas consultas ao pequeno escritório de New York, instalado naquele meio tempo. Cada uma das consultas foi criteriosamente atendida, panfletos e livros foram remetidos. Homens de negócios, "deslocando-se dos grupos já existentes, apresentaram-se aos novos membros em potencial. Novos grupos foram criados e descobriu-se, para surpresa geral, que a mensagem de A.A podia ser transmitida tanto pelo correio quanto verbalmente. Em fins de 1939, calculava-se que 800 alcoólicos estavam a caminho da recuperação.
Na primavera de 1940, John D. Rockefeller Jr. ofereceu um jantar a vários amigos, para o qual convidou membros de A.A., a fim de que estes contassem suas histórias. Notícias a respeito chegaram ao conhecimento do grande público. Novamente choveram consultas e muita gente foi às livrarias comprar o livro "Alcoólicos Anônimos".
Em março de 1941, o número de membros de AA. havia chegado a 2.000. Então, Jack Alexander escreveu um importante artigo no Saturday Evening Post retratou A.A de forma tão convincente para o público que os alcoólicos em busca de ajuda realmente caíram sobre nós como uma avalanche. No final de 1941, A.A contava com 8.000 membros. O processo de crescimento acelerado estava a todo vapor. A.A. se havia transformado em instituição nacional.
Nossa Sociedade entrou então num tímido e emocionante período de adolescência. O teste enfrentado foi o seguinte: Poderiam aqueles inúmeros alcoólicos até então errantes se reunir e trabalhar juntos com sucesso? Haveria discussões a respeito de membros, liderança e dinheiro? Haveria disputas de poder e prestígio? Haveria dissidências que destruiriam a unidade de AA.? Em pouco tempo, A.A. viu-se cercada por estes problemas, por todos os lados e em todos os grupos. Mas, a partir desta alarmante e a princípio dilacerante experiência, nasceu a convicção de que os membros de AA precisavam permanecer unidos ou morreriam separados. Precisávamos unificar nossa Irmandade ou sair de cena.
Assim como havíamos descoberto os princípios através dos quais um alcoólico conseguia se manter vivo, precisávamos desenvolver princípios segundo os quais os grupos de AA e A.A.como um todo conseguisse sobreviver e funcionar de forma eficaz. Acreditava-se que nenhum alcoólico, homem ou mulher, poderia ser excluído de nossa Sociedade; que nossos líderes deveriam servir, jamais governar; que cada grupo deveria ser autônomo e que não seria exercida qualquer terapia profissional.
Não haveria taxas ou mensalidades; nossas despesas deveriam ser cobertas por nossas próprias contribuições voluntárias. Nossa organização deveria se restringir ao mínimo, até mesmo em nossos centros de serviço. Nossas rela-ções públicas deveriam basear-se em atração, não em promoção. Foi decidido que todos os membros deveriam ser anônimos a nível de imprensa escrita, rádio, televisão e cinema. E sob circunstância alguma deveríamos dar endosso, fazer alianças ou entrar em controvérsias públicas.
Esta era a essência das Doze Tradições de A.A. cujo texto integral encontra-se no livro “Os Doze Passos e as Doze Tradições”.
Embora nenhum desses princípios tivesse a força de regras ou leis, já haviam sido, em 1950, tão amplamente aceitos, que foram confirmados por ocasião de nossa primeira Conferência Internacional, realizada em Cleveland. A extraordinária unidade de A.A. é, hoje, um dos maiores trunfos de nossa Sociedade.
Enquanto as dificuldades internas de nossa fase adolescente iam sendo elimi-nadas, a aceitação pública de AA. crescia a passos largos. Havia duas razões principais para que isto ocorresse: o grande número de recuperações e os lares refeitos. O efeito causado por estes se fazia sentir em toda parte. Dos alcoólicos que chegavam a A.A. e realmente se esforçavam, 50% ficavam imediatamente sóbrios e assim permaneciam, 25% chegavam à sobriedade após algumas recaídas e, dos restantes, aqueles que continuavam em A.A. apresentavam melhoras. Milhares de outros freqüentavam umas poucas reuniões de A.A. e, a princípio, decidiam não precisar do programa. Mas um grande número destes - cerca de dois terços - começou a voltar com o passar do tempo.
Outra razão para a ampla aceitação de A.A. foi a dedicação de amigos ligados à medicina, à religião e à imprensa que, ao lado de inúmeros outros, se tornaram nossos hábeis e persistentes advogados. Sem este apoio, teria sido impossível que A.A. progredisse tão depressa.
Alcoólicos Anônimos não é uma organização religiosa. Nem apóia qualquer ponto de vista médico em especial, embora cooperemos amplamente com os médicos, assim como com os religiosos.
Não fazendo o álcool qualquer distinção de cor ou classe, somos uma perfeita amostra do povo e, em terras distantes, o mesmo processo democrático imparcial se está desenvolvendo. Em matéria de afiliações religiosas pessoais, incluímos católicos, protestantes, judeus, hindus, muçulmanos e budistas. Mais de 15% de nossos membros são mulheres.
Atualmente, o número de membros de A.A. cresce na proporção de cerca de vinte por cento ao ano. Por enquanto, diante do problema total de vários milhões de alcoólicos de fato ou em potencial em todo o mundo, conseguimos ainda muito pouco. É bastante provável que jamais sejamos capazes de atingir mais do que uma razoável fração do problema do alcoolismo em todas as suas ramificações. No que se refere à terapia para o alcoólico, certamente não temos o monopólio.
Nossa maior esperança, porém, é que todos aqueles que até agora não tenham encontrado respostas, possam começar a encontrar alguma em um dos nossos grupos, ou em nossa literatura e venham, em breve, juntar-se a nós na estrada de acesso a uma nova liberdade.
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