"Eu sou responsável....
Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali. E por isto: eu sou responsável."

A culpa, o medo, e o remorso eram meus companheiros diários

A culpa, o medo, e o remorso eram meus companheiros diários


Agora que gozo de uma certa sobriedade, sou capaz de ver como fui cega durante vinte anos. Comecei a beber aos treze anos; ingeri uma quantidade imensa de vinho do Porto, por causa de uma aposta, o que me deixou tão enjoada e embriagada que prometi a mim mesma que nunca mais beberia.

 

No colégio, saía com uma turma de moças e rapazes mais velhos que eu. Todos bebiam, e não havia nada de que eu gostasse mais. Eu bebia porque gostava, e uma vez que tivesse começado a beber, já não me dispunha a parar quando os outros paravam. Se você gostasse de beber, eu gostava de sua companhia; caso contrário era difícil você me encontrar.

 

Aos 19 anos me casei. Meu marido bebia. Gostava de beber e podia fazê-lo sem embriagar-se. Acabava de conquistar um parceiro para beber por toda a vida, e nosso casamento começou sob o aspecto de uma festa sem fim.

 

Cerca de um ano após o nascimento de nossa filha, fiquei muito doente. O médico da família sugeriu que parasse de beber, pois poderia ser uma alcoólica em potencial. Caí em gargalhadas e ignorei por completo, não só o nosso médico, como também a minha família e os amigos que se queixavam das minhas bebedeiras.

 

A esta altura, eu perdia o controle com mais freqüência. Às vezes, o que começava pela intenção de não passar de umas poucas doses, transformava-se numa bebedeira que durava a semana inteira. Para tentar solucionar o problema, mudamo-nos para outro bairro e arranjei um emprego. Certo dia, a caminho do serviço, eu precisava de um estimulante e parei para tomar uma dose. Lembro-me de ter tomado mais duas depois daquela primeira; e a lembrança clara que tenho, seguindo-se a esta, só me veio três dias mais tarde; pela primeira vez vim a saber o que é medo. Disse a minha família que eu deveria estar com sérios problemas mentais, do contrário isso não poderia ter acontecido.

 

Passei a consultar um psiquiatra. Nunca mencionei a bebida, exceto para dizer-lhe que eu bebia ocasionalmente. Eu não falei para ele que, habitualmente, para criar coragem em certas ocasiões, tomava um drink. Uma dessas ocasiões eram as consultas com ele.

 

Os anos passaram e cheguei ao ponto em que já não dava conta de mais nada. Meu marido e eu nos separamos por diversas vezes, e sempre que nos reconciliávamos, renovávamos nossa esperança de que as coisas fossem mudar.

 

Mudaram mesmo. Pioraram. Fui parar num hospital onde o médico me disse que eu era esquizofrênica. Fiquei contentíssima: eu era uma louca, doida varrida, mas não era uma alcoólica.

 

Quando finalmente parei de ouvir vozes e me senti melhor, é claro que tive de comemorar, desta feita com a permissão do médico. Ele me sugeriu que não bebesse outra coisa senão Scotch, e do melhor, e que não passasse de três doses. Mas ele esqueceu de dizer-me o tamanho das doses que eu devia tomar.

 

Meu marido e eu nos separamos pela última vez. Ele me colocou diante de uma escolha: ou ele ou a garrafa. Eu não tinha escolha, pois já não podia mais viver sem a bebida.

 

Passei os dois anos seguintes vivendo um pesadelo. A culpa, o medo e o remorso eram os meus companheiros inseparáveis, dia após dia. Já não tinha mais amigos; os que tivera antes, agora atravessavam a rua quando me viam. A maior parte do tempo eu não passava de um cadáver ambulante, completamente dopada. Finalmente, num dia em que acordei pela enésima vez num quarto estranho em companhia de uma pessoa estranha, compreendi que não agüentava mais. Eu havia sido condenada à detenção por um crime cometido quando me encontrava em meio a um denso nevoeiro alcoólico.

 

Finalmente, aprendi a viver através do programa de Alcoólicos Anônimos. Quando comecei a freqüentar as reuniões de A. A. na prisão, as minhas orações pedindo ajuda foram atendidas. Uma das mulheres usou uma expressão que coube como uma luva na mão que me segurou nesta Irmandade: "Comecei a viver quando parei de chorar e comecei a tentar". Procurei aperfeiçoar-me conforme os padrões que A. A. me oferecia dos Doze Passos, que são o modelo para o meu dia de hoje, e também para todos os outros.

 

Duas coisas aprendi neste programa: primeiro, tinha que entregar-me por completo. Eu estava lutando, em vão, contra a garrafa; abandonei a luta, e por estar derrotada, saí vencedora. Em segundo lugar, aprendi que precisava mudar a mim mesma, pois o mundo não iria modificar-me só para agradar esta "coitadinha" que sou eu. É tudo bem simples: não importa o que me levou ladeira abaixo na rota do alcoolismo, simplesmente não quero saber. Passei quatorze meses atrás das grades porque não conseguia viver sem a garrafa, mas hoje aprendi viver longe dela.

 

Agora sou mais uma engrenagem na máquina desta Irmandade. Deram-me uma segunda oportunidade de ser o tipo de mãe que eu sempre quis. É verdade, obtive a maior de todas as dádivas: o retorno de minha filha com todo o seu amor. Ontem, eu meramente não existia, sem esperança, sem coisa alguma que não fosse a miséria mais abjeta; hoje levo a mensagem da esperança a outros alcoólicos. O programa funciona por estes motivos: se você quer realmente a sobriedade, uma vez que a tenha conseguido, passe a compartilhá-la.

 

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O que é o programa de A.A.?


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