"Eu sou responsável....
Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali. E por isto: eu sou responsável."

Eu supunha que minha embriaguez era apenas mais um sintoma da minha neurose...

Eu supunha que minha embriaguez era apenas mais um sintoma da minha neurose...


Bebi durante mais de 20 anos sem ter consciência de qualquer compulsão para beber. Podia deixar de lado o álcool, e com freqüência, assim fazia.

Tinha entretanto, outros problemas - problemas emocionais profundos. Sofria de depressões desde a minha adolescência, e talvez já mais cedo havia começado. Aos vinte e poucos anos, quando nasceu meu filho, tive uma séria depressão pós-parto, e dei início a um processo de psicoterapia que se prolongaria, com algumas interrupções, por anos a fio. Durante estes anos tive momentos de alívio. Eram bons tempos, quando tinha um desempenho produtivo, mas sempre parecia existir uma barreira invisível entre mim e a vida que eu desejava.

Neste intervalo de tempo, passei por dois casamentos que fracassaram. "O álcool nada teve a ver com estes fracassos".

Dez anos mais tarde eu sabia que estava em dificuldades com a garrafa. Acabava de ter um sucesso profissional marcante, porém fiquei de cama com caxumba. Quando me restabeleci, caí em depressão profunda, sem qualquer causa aparente, exceto, segundo disse o meu médico, que doenças viróticas freqüentemente deixam os pacientes deprimidos. Acho que não disse a ele, nesta ocasião, que além da depressão (que já conhecia), também estava sentindo outra coisa bem estranha: meu hábito de beber havia mudado completamente suas características, tornando-se compulsivo.

Meu filho era adolescente, e se uma mulher solitária que bebe, se odeia, uma bebedora que é responsável pelo bem-estar de uma criança sente culpa e desprezo por si mesma indescritíveis. É claro que o jeito de livrar-me dessa culpa era beber sistematicamente, até à inconsciência – para acordar de novo, beber e desmaiar de novo. Foi um pesadelo. Contudo, não sei como, eu estava conseguindo ter as refeições na mesa na hora certa, de mandar as roupas à lavanderia, de que meu filho estivesse pronto à hora de ir para a escola. Ele e eu nos amávamos e nos odiávamos ao mesmo tempo. É difícil dizer qual desses sentimentos era o mais doloroso. Foi a ele que confessei pela primeira vez que era uma alcoólica. Ele me havia perguntado: "Por que você bebe tanto, mamãe, você fica cheirando mal".

E a minha resposta foi: "Bebo porque eu sou uma alcoólica".

Só que eu não sabia o que significava ser uma pessoa alcoólica. Acostumada a con-siderar-me uma pessoa neurótica, eu supunha que a minha embriaguez era apenas um sintoma da minha neurose, e que precisava aprofundar-me ainda mais em meu inconsciente para descobrir o que estava me levando a beber, e que depois disso, teria condições de voltar a beber como antigamente. E assim retomei as peregrinações de um psiquiatra a outro e a outro mais.

O último capricho maluco da minha embriaguez aconteceu depois que meu filho foi para a faculdade. Num fim de semana quando fui viajar para visitá-lo, juntei todo o dinheiro que me restava e comprei um motel na vizinhança da cidadezinha onde ficava a faculdade. Era a "fuga geográfica": minha esperança era que, mudando mi-nha residência e meu modo de vida, deixaria a mim mesma para trás.

No primeiro ano, enquanto estava envolvida pelas tarefas de reformar a casa de campo e os sete chalés que compunham o motel, realmente consegui parar de beber. Todavia, agora era outra coisa que estava me acontecendo. Quando fui a Nova York, certa vez, a passeio, aproveitei para consultar o meu médico, que ficou con-tente ao constatar que eu havia emagrecido uns quinze quilos.

"Que é que você anda fazendo?" - ele indagou.

Eu respondi: "Acho que troquei de vício."

"O que você quer dizer com isso?"

"Deixei de ser viciada em álcool para ser viciada em calmantes."

"Bobagem", disse ele. "Você não pode se viciar com calmantes."

Os calmantes eram naquela época, relativamente novos. Hoje, os médicos sabem o que eu já havia descoberto: era incapaz de manter a quantidade de remédios que tomava dentro dos limites receitados pelo médico.

Minha derrocada foi íngreme. Houve uma internação em estado de coma, resultante de uma combinação entre o álcool e os calmantes. Outra, por causa de uma tentativa mal-sucedida de romper a dependência dos calmantes. E, finalmente, uma terceira, resultante de uma dose excessiva de barbitúricos.

Desta vez fiquei aos cuidados de um psiquiatra, que me conseguiu uma internação de seis meses num hospital psiquiátrico de Nova York.

Quando deixei a clínica, ainda não sabia que era uma alcoólica. Disseram-me que não deveria beber, mas não o porquê; fiquei apenas ressentida com a proibição e, é claro, fui beber.

Começou um círculo vicioso que durou três meses, durante os quais, eu primeiro bebia até ficar apavorada diante do álcool, depois tomava calmantes até ficar igualmente apavorada diante deles. Foi quando telefonei a um amigo que já estava no A. A. há nove meses, e lhe disse que estava pronta para tentar. Menos de uma semana depois, assisti minha primeira reunião, sentindo-me aliviada e comovida: eu havia chegado à minha casa, este era o meu lugar. Passei os olhos pela sala e senti a diferença nessa gente. Embora no passado tivesse conhecido muitas pessoas doentes, quase sempre haviam sido pessoas tentando ajustar-se às doenças; estes AAs, porém, eram pessoas doentes, tentando recuperar-se, tentando viver bem. Isto era o que eu também queria.

Continuei fazendo uso dos calmantes durante uma semana, após assistir a minha primeira reunião de Alcoólicos Anônimos, mas já nesta semana percebi claramente que, sendo alcoólica, o melhor que eu tinha a fazer era abster-me de qualquer coisa que pudesse alterar o meu comportamento através de processos químicos, do contrário corria perigo.

No início eu esperava que, tendo levado uma vida embriagadamente deprimida, agora levaria uma vida sobriamente deprimida. O maior milagre da sobriedade, para mim, veio a ser a minha libertação quase completa das depressões. Alguns conhecimentos que havia adquirido por meio da psicoterapia foram úteis, mas foi o programa de A. A. que me deu condições de pô-los em prática em sua plenitude.

Lancei-me no A. A. como que faminta. Assisti a muitas e muitas reuniões, e fiquei tão absorvida pelo programa que tive dificuldades para concentrar-me em qualquer outra coisa. Depois de algum tempo, contudo, à medida que tentava praticar o programa por inteiro, comecei a perceber os resultados em minha vida - em termos de paz de espírito, de relacionamento com as pessoas e uma lenta recuperação da minha capacidade profissional. Sou particularmente grata pelo relacionamento que hoje tenho com meu filho, que parece ter adquirido uma nova confiança em sua própria vida e em si mesmo, acompanhando a minha recuperação. "Mamãe", disse-me ele certa vez, "se você conseguiu, qualquer pessoa também pode!" Elogio ligeiramente dúbio, porém gentil.

Sinto-me realmente renascida desde meu ingresso em A. A.; finalmente rompi aquela barreira invisível que existia entre mim e a vida que eu queria levar. Quero viver a vida que levo hoje - uma vida baseada nos princípios de Alcoólicos Anônimos.

 

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